Vós orareis assim: Pai nosso, que estás nos céus,
santificado seja o vosso nome, venha a nós o vosso reino, seja feita a vossa
vontade, assim na terra como no céu. O pão nosso de cada dia dai-nos hoje.
Perdoa-nos as nossas dívidas assim como nós perdoamos aos nossos devedores. E
não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal. Pois vosso é o reino o
poder e a glória para sempre, amém!
A palavra reino aparece duas vezes na oração. Na segunda
frase: “Pois vosso é o reino…” Reino tem a conotação de tudo o que existe, isto
é, de tudo o que é sustentado pelo DEUS . E o DEUS a tudo sustenta, pois só Ele
(a TRINDADE) existe, tudo o mais subsiste nele.
Na primeira frase: “Venha a nós o vosso reino…” Reino traz
o conceito de Reinado. É o pedido para que o reinado da TRINDADE seja
estabelecido na terra.
É um pedido! O que pressupõe o desejo voluntário de quem
pede!
Por que, a um ser todo-poderoso, se deve pedir, na
realidade que Ele mesmo sustenta, a feitura de sua vontade?
O DEUS, que, por definição, tudo pode, concedeu,
temporariamente, a possibilidade da rebelião, e, em o permitindo, sustenta a
existência dos rebelados.
O DEUS, de toda a criação, possui todo o poder, mas, não é
possuído pelo poder, daí cede espaço para a existência de consciências
arbitrárias.
O DEUS decidiu que reinaria sobre os que desejassem estar
sob o seu reinado.
Nesse tempo, que chamamos de hoje, o DEUS está a recrutar
os que querem sobre si o reinado da TRINDADE.
Oram, conforme essa oração, os que voltaram do estado de
rebelião para o estado de adoração, que é a maneira adequada de relacionar-se
com o DEUS do Universo.
Não há, entretanto, nessa fase da história, boas notícias
para os que fizeram essa opção.
O novo testamento começa com o DEUS sendo expulso do
templo, e termina com Jesus do lado de fora da igreja.
No início do relato da nova aliança, João, o Batista, que
é sacerdote da família de Arão (Lc 1.5,13), e que, portanto, se tudo estivesse
sob o reinado do DEUS, estaria como sumo-sacerdote, está no ermo, dizendo ser a
voz daquele que fala do deserto (Jo 1.23): o DEUS que sofreu a defenestração
com a assunção do sumo-sacerdócio pelos lacaios dos romanos (Lc 3.1,2 -
Hendriksen - Ed Cultura Cristã - comentários a Lucas 3.1 e João 11.49-52;
18.13, 19-28)
No final do NT, na carta à Igreja em Laodicéia, Jesus, o
Cristo, está, do lado de fora, a bater à porta, na expectativa de ser ouvido.
Além disso, o próprio Cristo levantou a questão de se ele, em sua vinda, em
glória, acharia fé na terra (Lc 18.8). Ele falava dos seus, uma vez que fé é
dom de Deus (Ef 2.8).
Pedir o reinado do Pai é submeter-se ao doloroso trabalho
de transformação, protagonizado pelo Espirito Santo, que se utiliza, inclusive,
das lutas diárias: Jo 15.2; Rm 5.3-5; 8.29; 2Co 3.18; Col 1.11,12; 2Tm 3.10-13;
Hb 10.36, 12.1-11; 1Pe 4.12-19.
Sujeitar-se ao reinado do Pai é passar pelo sofrimento
resultante da rebelião, que se manifesta na história e nos enfrentamentos
espirituais: Mt 5.11,12, 10.16-39; Mc 10.29, 30; Jo 15.20; 2Co 12.10; 2Tes 1.4,
5; 2Tm 3.12; Ef 6.10-13; 1Pe 4.12-19.
Submeter-se ao reinado do Pai é perseverar frente ao
engano dos falsos profetas, discernindo os seus desvios, e diante do
esfriamento do amor em quase todos, dos que se definiam como seguidores do
Cordeiro (Mt 24.11-13).
O Israel, no Antigo Testamento, tinha uma missão na
história para o bem da humanidade; o Israel, no Novo Testamento, a Igreja (Rm
11.17), tem uma missão na humanidade para o bem da história.
O objetivo do DEUS, ao formar Israel, era trazer a criança
prometida no Jardim (Gn 3.15, 12.1-3; Gl 3.16). O Israel, no AT, a deveria
trazer para a história. As recompensas, nessa fase do Israel, eram históricas,
o DEUS lhe prometeu que se cooperasse com Ele, nessa tarefa, comeria do melhor
da terra. O Israel, no AT, tinha de chegar à terra prometida e lá ficar, porque
a criança tinha lugar certo para nascer (Miq 5.2).
O papel do Israel, no NT, é anunciar a criança para todas
as famílias da Terra, assim, ao contrário do que perseguia, no AT, uma terra em
que mana o leite e o mel, nessa fase, Israel tem que, o tempo todo, sair de
qualquer terra para ir à toda a Terra.
A amplitude e recompensa do Israel, no NT, aqui, é uma
comunidade solidária e planetária (Mc 10.29,30; 1Pe 5.9) e uma história de
glória na eternidade (Mt 5.12). O Israel, no NT, não pode prender-se à
história, como a vivemos, para que a história da humanidade se torne
bem-aventurada na dimensão da eternidade.
O Israel, no NT, a Igreja, como comunidade sob o reinado
do DEUS, vive nesta história, nela sinaliza o reinado do DEUS, que já está
presente em si, e influencia a sociedade para que, na medida possível,
experimente os padrões do reinado, implantando a justiça onde o conseguir, e o
faz para que mais da humanidade sobreviva, pelo debelamento da pobreza e de
toda a sorte de opressão do homem pelo homem, mas, jamais perde o foco na
eternidade, porque hoje é tempo de arrependimento, pois, toda a rebelião será
debelada, e o reinado do DEUS será estabelecido, e só os arrependidos nele
viverão.
Ora “venha o vosso reino”, quem se arrependeu de estar em
estado de rebelião; quem entende que a sociedade, também, deve se arrepender
pelo estado de rebelião, que se manifesta no pecado estrutural; quem crê que
Jesus, é Deus e Cristo (Mt 16.16); quem crê que virá o reinado eterno do DEUS
(Mc 1.14,15); quem reconheceu ser um privilégio estar em comunidade sob o
reinado; quem reconhece que só há comunidade onde há justiça; quem sabe que só
pela eficácia do sacrifício do Deus Filho, manifesto na cruz (1Pe 1.18-20) e na
sua ressurreição, é possível participar no reinado; quem entende que a dor da
Cruz é pequena frente à vida abundante da Ressurreição, que, boa notícia, já é
possível desfrutar desde agora, como indivíduo e sociedade!
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